Para marcar os 200 anos da morte de Frei Caneca, o Museu do Estado de Pernambuco promove, no próximo dia 16 de janeiro, no seu auditório, às 15h, no seu auditório, um debate sobre o tema, com os historiadores George Cabral e Dirceu Marroquim. O evento faz parte das celebrações do bicentenário da Confederação do Equador.
O historiador George Cabral, membro da Academia Pernambucana de Letras, autor e organizador de diversas obras em torno da Independência do Brasil e das revoluções pernambucanas concedeu esta entrevista exclusive, em que explica a importância de Caneca, sua época, e as lições que ficam para o mundo atual.
PERNAMBUCO – O que significa para Pernambuco e o Brasil a data 13 de janeiro de 1825?
GEORGE CABRAL – O 13 de janeiro de 1825 é o dia no qual Frei Joaquim do Amor Divino Caneca foi arcabuzado no largo das Cinco Pontas, no Recife. Sua execução se deu em decorrência de uma sentença passada por uma Comissão Militar nomeada pelo imperador Pedro I para julgar os líderes da Confederação do Equador. A data foi recentemente transformada em Dia Estadual de Frei Caneca, por lei aprovada na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Como principal líder republicano e federalista no Brasil na época do processo de Independência, Caneca deveria ter a data de seu martírio reconhecida como uma data cívica nacional. No entanto, essa homenagem acabou sendo dada ao mineiro Tiradentes por ocasião da chegada da República.
PERNAMBUCO – O que você como historiador considera mais relevante em Frei Caneca?
GEORGE CABRAL – Um dos traços mais relevantes da figura de Frei Caneca é a sua capacidade de transitar entre o pensamento e a ação, entre a teoria e a prática, no que tange à sua visão política do momento histórico em que ele vivia. Poucos personagens da história tiveram essa capacidade.
PERNAMBUCO – O que torna Frei Caneca especial se o comparamos com outros religiosos de 1817 e 1824?
GEORGE CABRAL – Numerosos religiosos pernambucanos contemporâneos de Caneca se envolveram em questões políticas e sociais a partir das influências do pensamento do Iluminismo. Mas poucos tiveram a base intelectual que Caneca teve. Mesmo sem ter saído de Pernambuco, seu apetite voraz pelo conhecimento o transformou em um intelectual enciclopédico. “Eloquente e erudito”, como o caracterizou Natividade Saldanha em um dos seus poemas.
PERNAMBUCO – Alguma lição da obra de Frei Caneca que pudesse ser útil hoje?
GEORGE CABRAL – Considero que a faceta mais atual do pensamento de Caneca é a sua convocação permanente aos cidadãos para que se interessem e participem da vida pública. Para Caneca, essa participação cidadã é a base da convivência em uma pátria verdadeiramente republicana. Esse é um aspecto de grande atualidade num momento em que vivemos ameaças contra a democracia e uma demonização da política, especialmente entre os mais jovens.
PERNAMBUCO – Pode dizer em poucas palavras no que consistiu o julgamento e a execução de Frei Caneca?
GEORGE CABRAL – Caneca foi condenado à morte por uma comissão militar presidida pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva, que comandou as tropas imperiais enviadas para reprimir a Confederação. O processo foi sumário e a condenação, na verdade, era uma exigência de Pedro I. Podemos dizer que a sentença já veio escrita do Rio de Janeiro uma vez que Caneca já era um personagem bem conhecido pela Corte imperial. O imperador negou peremptoriamente todos os pedidos de clemência. A morte por enforcamento era o método para os criminosos mais vis. O fato de que nenhum carrasco aceitou executar Caneca é uma mostra do respeito da comunidade pelo carmelita.