(Imagem: Vitor Fugita)
Quais narrativas (ou leituras) cruzaram o livro enquanto objeto em 2022, um ano de tantas crises, que tensionou os limites democráticos, por um lado, e nos fez sonhar com o fim da atual pandemia, por outro? É o que propomos com nossa já tradicional lista de melhores capas do ano, escolhidas por um grupo de designers e ilustradores convidados. Dessa vez, para a nossa alegria, um livro do nosso Selo Pernambuco (Cepe Editora) foi o mais lembrado pelos votantes. O recente O corpo desvelado - Contos eróticos brasileiros 1922-2022, organizado por Eliane Robert Moraes, com projeto gráfico de Hana Luzia e Matheus Melo. Um livro sobre sexo, mas não necessariamente sobre (apenas) prazer, como já demonstra a estranha fotografia P&B da capa. Nessa edição da lista, a Todavia e a Fósforo foram as editoras mais lembradas, ambas com nove citações.
Confira a seguir as escolhas dos nossos convidados ou como diria Rod Stewart naquele clássico pop: every picture tells a story!
>> Filipe Aca
Designer e ilustrador freelancer (@acafilipe), colaborador do PERNAMBUCO e cofundador do Mafuá (@ma.fu.a).
Aos prantos no mercado (Michelle Zauner)
Editora: Fósforo Editora
Capa: Ing Lee
Comentário: Acompanho o trabalho de Ing Lee há algum tempo, adoro as texturas e cores das suas ilustrações, sendo inclusive uma referência pessoal. O que mais gosto dessa capa é o caráter narrativo dela, funcionando como uma história em quadrinhos que fala da poesia, sensibilidade e afetividade presentes no cotidiano.
O presidente e o sapo (Carolina De Robertis)
Editora: Dublinense
Capa: Luisa Zardo
Comentário: Adoro as ilustrações de Luisa, acho que ela sempre trabalha com as cores de uma maneira muito linda. Essa capa me encantou logo de cara, é aquele livro que se você encontra numa prateleira na livraria e vai querer levar para ler.
Grécia revisitada – ensaios sobre cultura grega (Frederico Lourenço)
Editora: Carambaia
Capa: Estúdio Daó
Comentário: Geralmente livros que abordam temáticas da cultura grega têm cara de livro didático antigo e chato, nada atrativos visualmente. Na edição da Carambaia, eu amo o contraste do azul vibrante com o dourado. Uma palavra para descrever essa capa: chique.
Esse cabelo (Djaimilia Pereira de Almeida)
Editora: Todavia
Capa: Luciana Facchini e ilustração de Jônatas Moreira
Comentário: Acompanho o trabalho de Jônatas há um tempo, acho a paleta de cores dele muito linda e especial. As figuras que ele cria são sempre muito expressivas, na capa do livro de Djaimilia os objetos dispostos me lembram uma vitrine de coleção e me fazem imaginar outros penteados possíveis.
O corpo desvelado: contos eróticos brasileiros – 1922/2022 (Eliane Robert Moraes)
Editora: Cepe Editora
Capa: Hana Luzia e Matheus Melo
Comentário: Os livros do Selo Pernambuco são um grande exemplo de como temos designers, ilustradoras e artistas tão incríveis aqui no Nordeste. Acredito que a parceria entre Hana e Matheus foi mais que acertada, tanto a capa quanto as fotografias que ilustram o projeto são lindas e bastante sensíveis. Um projeto chique e que definitivamente merece estar entre os melhores do ano.
>> Hana Luzia
Diretora de arte, designer e ilustradora (@hana_luzia). Diretora de arte do jornal literário PERNAMBUCO entre 2019 e 2022. Mestre em Design (UFPE), onde pesquisou design da informação, emojis e retórica visual.
1984 (George Orwell)
Editora: Ática
Capa: Amanda Miranda
Comentário: Das inúmeras capas/edições de 1984 lançadas após a obra de George Orwell entrar em domínio público, a capa de Amanda Miranda se destaca por fugir totalmente do conceito usual do "olho que tudo vê". Além disso, é original o trabalho do título em lettering de metal com pregos, parafusos e corrente, criando unidade com a ilustração.
Pesado (Kiese Laymon)
Editora: TAG Curadoria
Capa: Lebassis
Comentário: Lebassis traz a violência, rebeldia e a juventude num contexto de racismo americano, a partir de tipografia. Inclusive, o PESADO da capa remete à temática do corpo que também é abordada. Achei muito interessante o recorte estético (nas cores e no grunge) do final dos anos 80 e início dos anos 90, adolescência e início da vida adulta do autor/personagem.
Noites brancas (Fiódor Dostoiévski)
Editora: Antofágica
Capa: Giovanna Cianelli (design) e Mateus Acioli (ilustração)
Comentário: Essa capa é um exemplo de quando o literal faz todo o sentido. E o uso do creme casou muito bem com os tons de cinza da ilustração de Mateus Acioli. Achei muito legal também que a disposição tipográfica do título em preto, ao redor do casal, alude a um céu estrelado invertido.
It came from the closet (Joe Valesse (Ed.), Vários autores)
Editora: Feminist Press
Capa: Bráulio Amado
Comentário: A "ressurreição" no cemitério como se "estar dentro do armário" fosse estar vivendo uma vida sem sentido, como um morto-vivo, é uma metáfora que combina perfeitamente com a temática de terror do livro. A imagem da mão saindo da terra, recorrente no repertório de terror (aka Thriller, Hocus pocus, entre outros), com uma camada queer que é a forma "chique" do punho e da mão, como se estivesse mostrando as unhas ou uma jóia, tem mesma energia da capa do álbum de estreia de Kim Petras (Turn off the light) e do emoji mais queer de todos, a mão fazendo as unhas.
Esse cabelo (Djaimilia Pereira de Almeida)
Editora: Todavia
Capa: Luciana Facchini (design) e Jônatas Moreira (arte)
Comentário: Esta capa é muito marcante e de extremo apelo visual. Além da combinação das cores, o que mais chama atenção são os objetos associados ao tema "cabelo" organizados, trazendo um aspecto de mostruário de "o que tem na minha bolsa", que combinam com a abordagem de identidade e autoficção da obra.
>> Ícaro Matias
Designer e Gerente de Estratégia de Marcas. Co-fundador da Rainbow Sangha Brasil - Budismo LGBTI+ (@budismo_lgbt). Mestrado e Especialização em Ciência da Religião (PUC-SP).
O desejo dos outros: uma etnografia dos sonhos Yanomami (Hanna Limulja)
Editora: Ubu Editora
Capa: ilustração de Davi Kopenawa
Comentário: É praticamente impossível não escolher essa capa como uma das melhores do ano. Essa obra potente e importante conta com uma belíssima expressão artística indígena, a árvore dos sonhos imersa no azul profundo do inconsciente.
Sonhei com o anjo da guarda o resto da noite (Ricardo Aleixo)
Editora: Todavia
Capa: Acauã Novais
Comentário: A memória poética carregada na fotografia do autor é abraçada por “vigilantes” grafismos. Entre olhos e ondas do passado, regados a uma encantadora escolha de cores, essa capa tem um poder hipnotizador.
O corpo desvelado: contos eróticos brasileiros – 1922/2022 (Eliane Robert Moraes)
Editora: Cepe Editora
Capa: Hana Luzia e Matheus Melo
Comentário: Esse livro é puro libido em todos os sentidos. O projeto gráfico reflete toda a tensão sexual dos contos não apenas na sutileza das escolhas fotográficas, mas também os recursos tipográficos que vão encorpando em puro desejo. Um visual que deixaria até mesmo (o fotógrafo americano Robert) Mapplethorpe com tesão.
Um pé na cozinha: um olhar sócio-histórico para o trabalho de cozinheiras negras no Brasil (Taís de Sant’Anna Machado)
Editora: Fósforo
Capa: Cristina Gu
Comentário: Contornar e iluminar o invisível, aqui as cores e o recurso do enquadramento dão vida e ampliam o drama desta fantástica pintura feita por Daiely Gonçalves. Com muita simplicidade, o título impõe na leitura a tensão da dinâmica de apagamento de mulheres negras da qual o livro pretende revelar.
Círculo de poemas (vários autores)
Editora: Fósforo/Luna Parque
Capa/Projeto gráfico: Alles Blau
Comentário: Circular poesias, um comportamento universal materializado em design. Ao longo de todo este ano as capas da Círculo surpreenderam e emocionaram em toda sua simplicidade geométrica e uma explosão de vermelhos. Mês a mês fomos envolvidos no suspense em querer saber quais curvas abraçariam que poetas. Silhuetas que se transformavam em janelas, revelando ainda a poesia encontrada em belas obras de arte.
>> Jaíne Cintra
Doutoranda em Design de artefatos digitais pela UFPE, é colaboradora de publicações especializadas em Design e UX Manager na Accenture Brasil. Com interesse nas áreas de comunicação, sociedade e realidades imersivas, foi editora de arte e multimídia em redações de revistas e jornais. No jornal PERNAMBUCO, foi diretora de arte entre 2007 e 2009.
A desobediência civil (Henry David Thoreau)
Editora: Antofágica
Capa: Mateus Acioli
Comentário: O destaque desse livro, que traz ilustrações de Mateus Acioli, se deve também ao projeto gráfico que, em coerência com o texto, faz uso de recursos que transgridem as regras da boa forma e do equilíbrio padrão de uma composição visual. Letras desalinhadas, páginas inesperadas, tamanhos e tipografias supostamente inconsistentes reforçam que nem sempre precisamos de bom senso.
O corpo desvelado: contos eróticos brasileiros – 1922/2022 (Eliane Robert Moraes)
Editora: Cepe Editora
Capa: Hana Luzia e Matheus Melo
Comentário: Dar imagem ao erotismo talvez seja uma das armadilhas mais traiçoeiras que um designer pode encontrar, porque é fácil cair no clichê do uso de uma imagem que supostamente é sexy, prazerosa e/ou desejável. Em O corpo desvelado, Hana Luzia e Matheus Melo conseguiram trazer uma espécie de sufoco - que também merece ser ilustrado e faz parte do tema - para o foco do olhar e não caíram na arapuca da ilustração do prazer.
Gótico nordestino (Cristhiano Aguiar)
Editora: Alfaguara
Capa: Kiko Farkas e Máquina estúdio, arte de Gilvan Samico
Comentário: O texto do Gótico nordestino foge do imaginário comum sobre o Nordeste, mas a capa não. E por isso destaco: porque tem coisas que não há como evitar. O projeto de Kiko Farkas traz uma obra de Gilvan Samico, que dentre outros feitos, foi um dos grandea nomes do Movimento Armorial, voltado à cultura popular nordestina e à literatura de cordel. Daí essa capa parece embalar um texto que colabora com o Nordeste cristalizado na imaginação, mas não é o caso. E essa relação entre a capa e o conteúdo, não sei se de maneira proposital, fez nascer uma ironia fina.
Todos nós estaremos bem (Sérgio Tavares)
Editora: Dublinense
Capa: Luísa Zardo
Comentário: A designer Luísa Zardo colocou a Dublinense no radar das grandes capas e projetos gráficos nacionais. Vou deixar a capa/projeto gráfico do Fome azul de lado (procurem ver) e me concentrar na excelente ilustração para a capa e contracapa do Todos nós estaremos bem, que está em pré-venda e tão bem representa um certo desconforto de quem espera um futuro melhor, mas não sabe o que fazer quando supostamente ele chega.
As primas (Aurora Venturini)
Editora: Fósforo
Capa: María Luque
Comentário: A quadrinista argentina María Luque usa técnicas que criam uma espécie de intimidade com o observador ao primeiro olhar e isso é o que mais me fascina nos seus trabalhos, que acompanho há bastante tempo. Tudo parece muito familiar – a composição, as cores, o jeito intuitivo da sua pintura. Na capa de As primas não foi diferente e é sempre muito interessante como consegue nos convencer de que aquela cena a gente já viu ou que já estivemos lá.
>> Janio Santos
Designer e ilustrador da Revista Continente e do PERNAMBUCO, graduado em Design (UFPE).
O cortiço (Aluísio Azevedo)
Editora: Antofágica
Capa: Giovanna Cianelli e arte de Kika Carvalho
Comentário: A obra reeditada recebe ilustrações de Kika Carvalho. Com belas e emotivas pinturas em tons de azul, como se tudo fosse feito à luz da lua, essa edição é um convite para ler e reler com novos olhares um livro que foi nosso dever de casa nos tempos de escola.
Mensagem (Fernando Pessoa)
Editora: Todavia
Capa: Flávia Castanheira
Comentário: Uma capa que me impacta pela identidade visual forjada com repetições de pouquíssimos elementos. Apenas 3 vogais, 3 consoantes, espelhamento de fonte e podemos visualizar a icônica figura do escritor português.
HQ: uma pequena história dos quadrinhos para uso das novas gerações (Rogério de Campos)
Editora: Edições Sesc São Paulo/ Editora Veneta
Capa: Casa Rex
Comentário: Gostei da aplicação de hierarquias tipográficas tanto na capa quanto no miolo do livro, com variação de tamanho, peso e disposição da fonte utilizada. A nossa visão é atraída primeiramente para a abreviatura "HQ" sangrando a capa, recheado com detalhes de 3 quadrinhos. Já todo o restante do título e as demais informações ficam orbitando o astro principal.
Newton (Luís Francisco Carvalho Filho)
Editora: Fósforo
Capa: Daniel Trench
Comentário: Uma mancha gráfica repetitiva que me desperta a curiosidade de saber quem é Newton. Ao saber mais detalhes, notei que a capa traduz bem o romance: Newton é um escritor sem passado, sem sobrenome e sem documentos. Como a própria descrição do livro diz: Newton e ponto final.
O corpo desvelado (Org. Eliane Robert Moraes)
Editora: Cepe Editora
Capa: Hana Luzia e Matheus Melo
Comentário: Sim, a nossa grama também é mais verde: o segundo volume de contos eróticos publicado com o Selo Pernambuco é uma obra primorosa feita a quatro mãos. A capa elegante, o projeto gráfico atraente, o ensaio fotográfico que foge do lugar-comum da representação erótica... tudo é um flerte para consumir o livro.
>> Karina Freitas
Designer e ilustradora freelancer (@deliriosgraficos), colaboradora do PERNAMBUCO e da Revista Continente. Pós graduada em Projetos Digitais pelo IED-Rio, Istituto Europeo di Design.
Futuro ancestral (Ailton Krenak)
Editora: Cia das Letras
Capa: Alceu Chiesorin Nunes
Comentário: Capa tipográfica extremamente impactante, utiliza elementos gráficos inspirados nas culturas indígenas brasileiras. É uma continuação do projeto gráfico de outros livros de Ailton Krenak para Cia das letras, uma coleção incrível que vai ficar gravada na nossa memória tanto pela importância de Krenak quanto pelo visual brilhante que o Alceu conseguiu para as capas.
O negro visto por ele mesmo (Beatriz Nascimento, Org. Alex Ratts)
Editora: Ubu Editora
Capa: obra de Abdias Nascimento
Comentário: Uma belíssima capa ilustrada com Obra de Abdias Nascimento, um artista fundamental na cultura visual brasileira. Atenção para o diálogo entre geometria e simbologias provenientes da cultura afro-brasileira.
Vila Sapo (José Falero)
Editora: Todavia
Capa: Renan Costa Lima
Comentário: Uma capa tipográfica extremamente interessante combinando paleta de cor forte, fotografia e lettering. A composição de título une caos, experimentalismo e linguagem urbana. Trabalho precioso do Renan Costa Lima.
Ficções amazônicas (Aparecida Vilaça, Francisco Vilaça Gaspar)
Editora: Todavia
Capa: Paula Carvalho | Gê Viana
Comentário: O título bebe na fonte da diversidade cultural brasileira e seu cruzamento com a visão dos povos originários, a capa é ilustrada pela colagista Gê Viana. Gê produz colagens decoloniais analógicas e digitais que questionam a visão histórica hegemônica. Uma escolha perfeita para essa capa.
Coleção Annie Ernaux
Editora: Fósforo
Capa: Bloco Gráfico
Comentário: Nesse box lançado pela Editora Fósforo com a obra de Annie Ernaux, a Bloco Gráfico propôs uma coleção linda de capas, onde o título se espalha pelas margens e a fotografia ocupa o centro, somando uma paleta de cor mais fechada e intimista. Não poderia haver diálogo melhor com o universo de autoficção da autora.
>> Maria Júlia Moreira
Designer e ilustradora (@moreirajuliarego), colaboradora do PERNAMBUCO desde 2017. Mestranda na Faculdade de Belas Artes de Hamburgo.
Democracia equilibrista (vários autores)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Gabinete Gráfico
Comentário: Capa prum ano de corda-bamba. Do gabinete da dupla Nina Farkas e Felipe Sabatini.
Isso só não existe (Org. Joana Ferraz)
Editora: selo Acampamento, autopublicado
Capa: Daniel Lobo e design Érico Peretta
Comentário: @aacampamentoo é um selo editorial independente que se move em paralelo aos processos de seus participantes dentro do universo da dança e dramaturgia. "Isso só não existe" é o primeiro volume de uma série de publicações, e compila textos de 15 artistas sobre seus fazeres, corpos, obras. Essa capa foi um susto bom, uma ponte (ou uma fricção) entre papel–digital. glitch-holograma-3d-textura-mofo-luz, imaterial impresso. Faz coceira e faísca nos olhos e na cabeça.
A história invisível (Sofia Nestroviski)
Editora: Fósforo
Capa: design de Cristina Gu com ilustrações de Danilo Zamboni
Comentário: Danilo Zamboni fez uma capa-desenho de encher os olhos pra empacotar uma história invisível. Passeamos por esses desenhos contínuos dentro da história, onde uma paisagem se funde em outra e depois em outra, e ganhamos lunetas pra ver sereias em terra firme e outros relances nas frestas das sombras.
Histórias brasileiras (MASP)
Editora: MASP
Capa: Luciana Facchini
Comentário: Catálogo da exposição de mesmo nome, que celebrou em 2022 os 200 anos da independência do Brasil e 100 anos da Semana de Arte Moderna em São Paulo. Acho que eu gosto principalmente de tudo que essa capa escolhe não ser: as cores e formas que se nega a usar. Preto e vermelho é um contraste que carrega sentidos fortes, e aqui Luciana consegue se utilizar deles, mas dilui esse peso numa cortina de fumaça, com fendas que confundem – precisam de tempo e revisão, como as narrativas exploradas na mostra. A tipografia "polifônica" e ruidosa foi feita pra publicação por Flora de Carvalho, e cada letra contém cinco variações, que se expandem em possibilidades de combinações infinitas e títulos sempre sutilmente diferentes.
Não pisar descalça em tapete (Maria Isabel Iorio)
Editora: 7Letras
Capa: fotografia Marina Zabenzi
Comentário: Trocar os pés pelas mãos e não trocar as capas pelos livros. Por que um dedo em riste e um risco são infinitos.
>> Maria Luísa Falcão
Doutoranda em Design na FAU-USP. Pesquisa sobre a artesanalidade em projetos editoriais independentes, processos criativos, visualidade e materialidade do livro. Atua como designer editorial e diagramadora.
Escrever é esquecer (Fernando Pessoa)
Editora: Grafatório
Capa: Pablo Blanco e Gustavo André (Design e produção gráfica)
Comentário: Gosto muito desta capa – e do projeto do livro, no geral – por trazer a sensação de visto/não-visto (ou ainda, esquecido) por meio do uso de diferentes papéis, como o vegetal. A experimentação com materiais e encadernação alternativa trazem uma riqueza incomparável ao projeto.
Guy Debord: antimanual de leitura (Douglas Barros)
Editora: sobinfluencia
Capa: Rodrigo Correa
Comentário: Em geral, gosto bastante dos projetos gráficos da sobinfluencia, acredito que sigam uma linha gráfica sóbria e concisa, muito particular da editora. No caso desta capa, me agrada a maneira como as figuras e componentes gráficos foram dispostos e, junto a tipografia, é fortalecida a ideia de um design mais estruturado e, de certo modo, moderno.
Pagu no metrô (Adriana Armony)
Editora: Nós
Capa: Bloco Gráfico
Comentário: No caso da capa de Pagu no metrô, me chama a atenção o modo como foi trabalhada a fotografia e a retícula, aliadas à paleta cromática viva e impactante.
Seleta erótica de Mário de Andrade (Mário de Andrade /Org. Eliane Robert Moraes)
Editora: Ubu Editora
Capa: Julio Lapagesse (ilustração)
Comentário: Gosto de como o projeto gráfico em geral vai para uma linha delicada, com tipografia elegante. A ilustração, muito bonita, trabalha bem com essa abordagem, aludindo às ilustrações científicas.
Madame Bovary (Gustave Flaubert)
Editora: Antofágica
Capa: Luciana Facchini e arte de Maria Flexa
Comentário: A Antofágica sempre nos apresenta a proposta de edições trabalhadas e cuidadosas, como é o caso, também, de Madame Bovary. Nesta capa, me interessa a aproximação com as artes plásticas, evocando as sensações e textura do material, além de trabalhar bem com o contraste na paleta de cores.
>> Matheus Melo
Designer, publicitário, fotógrafo e artista visual (@sonhadorimaginario). Designer da Revista Continente e do PERNAMBUCO. Especialista em design de artefatos digitais.
Círculo de poemas (vários autores)
Editora: Fósforo/Luna Parque
Capa/Projeto gráfico: Alles Blau
Comentário: Um projeto gráfico que contrapõe a simplicidade estética com a complexidade dos poemas, de uma maneira cativante, que resulta num universo visual muito bem estruturado.
As maravilhas (Elena Medel)
Editora: Todavia
Capa: Violaine Cadinot | Julia GR
Comentário: Uma capa que constrói uma narrativa antes mesmo de partir para as páginas do romance. Vejo na ausência e, ao mesmo tempo, na presença de uma forte expressividade na capa, uma prévia de como a falta de recursos para sobreviver pode matar os sonhos de alguém.
A pedra da loucura (Benjamín Labatut)
Editora: Todavia
Capa: Celso Longo | Bruna Canepa
Comentário: Por uma temática tão abstrata, esse projeto gráfico monta, através da estética cúbica e geométrica, a visualidade do caos explorado por Labatut.
Tênebra: narrativas brasileiras de horror [1839 - 1899] (Org. Júlio França e Oscar Nestarez)
Editora: Fósforo
Capa: Flávia Castanheira | Eduardo Belga (ilustração)
Comentário: Um projeto gráfico e ilustração primorosos que dão campo para exploração da ficção literária do século 19. É uma capa que respeita e dá valor ao gênero tão marginalizado pela história literária brasileira do período em questão.
Moçambique com z de zarolho (Manuel Mutimucuio)
Editora: Dublinense
Capa/Projeto gráfico: Luísa Zardo
Comentário: Uma das capas que mais chama atenção pelo escancaramento da problemática capitalista global que, assim como o violento processo de colonização, apaga a identidade de um país inteiro e desnorteia inúmeras vidas. A semiótica da paleta de cores e das ilustrações nos permitem viajar diretamente para essa realidade.
>> Rafael Olinto
Graduando em Design (UFPE) e estagiário do PERNAMBUCO (@rafa_olin).
Arruda e Guiné: resistência negra no Brasil contemporâneo (Bianca Santana)
Editora: Fósforo
Capa: Danilo de Paulo, Mercurio.studio
Comentário: A variação tipográfica e os tamanhos dos tipos sobrepostos na textura da planta lembram um cartaz.
Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro (Roberto Moura)
Editora: Todavia
Capa: Julia Custodio e pintura de Heitor dos Prazeres
Comentário: A pintura composta por brincantes reverenciando o samba, remetendo assim a um quadro.
A cabeça do pai (Denise Sant’Anna)
Editora: Todavia
Capa: Daniel Trench
Comentário: O uso do círculo como elemento base, criando assim uma malha gráfica que transmite a sensação de movimento.
O Cortiço (Aluísio Azevedo)
Editora: Antofágica
Capa: Giovanna Cianelli e arte de Kika Carvalho
Comentário: A pintura do personagem em vários tons de azul, diversidade tipográfica, textura e a paleta de cores deixam a capa parecendo um cartaz.
Racismo brasileiro (Ynaê Lopes dos Santos)
Editora: Todavia
Capa: Julia Custodio
Comentário: A composição da capa usando elementos gráficos e cores, referenciando a bandeira do Brasil de maneira incomum daquela que estamos acostumados a ver.
>> Vitor Fugita
Graduando em Design (UFPE) e estagiário do PERNAMBUCO (@fuugita).
Moby Dick (Herman Melville)
Editora: Antofágica
Capa: Giovanna Cianelli e arte de Letícia Lopes
Comentário: Em ótima demonstração da vontade de repaginar edições clássicas, a capa apresenta de forma direta o título de peso em conjunto a um belíssimo trabalho de Letícia Lopes. A pintura com sua profundidade e uso de luzes reflete no mesmo mote os aspectos estéticos e temáticos que marcam a obra.
Em câmara lenta (Renato Tapajós)
Editora: Carambaia
Capa: Daniel Brito
Comentário: Com leveza, Daniel Brito incorpora a disposição da ilustração com a tipografia do título para conseguir um efeito ambíguo de movimento, criando uma pequena narrativa visual que se desfecha na contracapa. A sincronia com a história do livro, dentro e fora de suas páginas, faz alusão também ao contexto e a maneira como seu conteúdo saiu do presídio de Tiradentes na década de 70.
Lorenzato (Org. Rodrigo Moura)
Editora: Ubu Editora
Capa: Elaine Ramos com pintura de Amadeo Luciano Lorenzato
Comentário: Um projeto gráfico de sutileza que opta por ceder todo o espaço frontal da capa para o artista abordado, trazendo como tipografia apenas sua assinatura, que se faz de título. Cria de forma pertinente e respeitosa o espaço de protagonismo para o trabalho elencado, e tal consistência segue todo o projeto gráfico, que se espelha na paleta de cores e texturas utilizadas por Lorenzato, estas por sua vez provenientes de seus materiais e técnica.
Ragu 9 (Múltiplas autorias - Org. João Lin e Christiano Mascaro)
Editora: Cepe
Capa: Eryk Souza
Comentário: Continuando uma maravilhosa mostra do quadrinho nacional, o projeto gráfico da Ragu tem sua identidade baseada em um extenso catálogo de múltiplas autorias, e é com traço ágil e cores vibrantes que Eryk Souza traz essa energia da coletividade e dos quadrinhos, em grande volume de detalhes, com sua leitura de um famoso país do futuro.
Tênebra: narrativas brasileiras de horror [1839 - 1899] (Org. Júlio França e Oscar Nestarez)
Editora: Fósforo
Capa: Flávia Castanheira | Eduardo Belga (ilustração)
Comentário: A tipografia especial do título, muito bem utilizada em sua disposição não ortodoxa, mostra em sua amálgama de símbolos o contraste de temas e emoções que também buscam as narrativas aqui selecionadas, misturando tensão, humor e crítica, destacando a característica peculiaridade das vertentes artísticas de terror.