imagem melhorescapas2020 Hana Luzia 1

 

Quais narrativas (ou leituras) cruzaram o livro enquanto objeto em 2020? Ano atípico e marcado pela precarização do mercado editorial, 2020 foi atravessado por lançamentos com capas e projetos gráficos revigorantes, com metáforas poéticas. Investem de diversas formas na revelação entre a costura que liga imagem e política. Isso, entretanto, não representa todo o mercado: antes, é o que você vai encontrar na nossa lista de melhores capas do ano.

Pelo quinto ano, pedimos a nossos designers — Hana Luzia e Jânio Santos — e a algumas de nossas colaboradoras e colaboradores — Eduardo Azerêdo, Filipe Aca, Jaíne Cintra, Karina Freitas e Maria Luisa Falcão — que elegessem os trabalhos que mais chamaram a atenção entre os que foram lançados neste ano. São elas e eles que pensam a imagem do Pernambuco nas versões impressa, online e redes sociais. 

Dentre as escolhidas, houve empate nas capas com destaque: O médico e o monstro (Pedro Inoue com ilustração de Adão Iturrusgarai, da Editora Antofágica), William Morris: Sobre as artes do livro (Gustavo Piqueira e Samia Jacintho; Ateliê Editorial) e Os donos da terra (Denise Matsumoto com ilustração de Vitor Flynn Paciornik; Editora Elefante). Também houve empate nas menções às editoras: foram mais citadas a Antofágica e a Companhia das Letras. O designer destaque (mais mencionado) da lista é Pedro Inoue.  

 

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>> Eduardo Azerêdo

 

Melhores capas 2020 o impostor

O impostor (Edgard Telles Ribeiro)
Editora: Todavia
Capa: Julia Masagão com ilustração de Cristina Daura
Comentário: Daquelas capas que você olha pra não esquecer mais. Muito bonita e marcante, gosto bastante dessa.

Melhores capas 2020 contra mim

Contra mim (Valter Hugo Mãe)
Editora: Globo Livros/Biblioteca Azul
Capa: Bloco Gráfico com arte de Adriana Varejão
Comentário: Não é de hoje a qualidade que esse projeto gráfico que o Bloco Gráfico fez para a coleção de Valter Hugo Mãe. Mesmo familiar aos olhos, ele sempre me chama atenção e cativa. Incorporado a isso, a obra de Adriana Varejão parece só trazer ainda mais significados ao todo.

 

Melhores capas 2020 joao cabral de ponta a ponta

João Cabral de ponta a ponta (Antonio Carlos Secchin)
Editora: Cepe Editora
Capa: Filipe Aca
Comentário: Ilustrações belíssimas de Filipe Aca dão força a capa desse livro e contam uma história por si só. Um dos meus preferidos do ano.

 

Melhores capas 2020 calu fontes

 

Calu Fontes: Camadas, contornos e relevos (Calu Fontes)
Editora: WMF Martins Fontes
Capa: Bloco Gráfico
Comentário: A capa reflete exatamente o título da obra. As camadas, contornos e relevos dos elementos trazem toda uma riqueza para mais um belíssimo projeto do Bloco Gráfico.

Melhores capas 2020 os sofrimentos do jovem werther

Os sofrimentos do jovem Werther (Goethe)
Editora: Antofágica
Capa: Alles Blau Studio com ilustração de L. M. Melite
Comentário: A capa traz o peso que envolve essa história desde o seu lançamento. A tipografia por si só já chama bastante atenção e, aliada a isso, a ilustração nos deixa com vontade de abrir pra ver mais.


>> Filipe Aca

Melhores capas 2020 arte queer do fracasso

A arte queer do fracasso (Jack Halberstam)
Editora: Cepe Editora
Capa: Hana Luzia com pintura de Ramonn Vieitez
Comentário: A utilização da obra de Ramonn Vieitez, tanto na capa quanto na contracapa, comunica logo num primeiro olhar o tom político, contemporâneo e pop do livro de Halberstam. Além disso, eu adoro poder ficar procurando os detalhes, significados e referências escondidos nas imagens.

Melhores capas 2020 o homem duplo

O homem duplo (Philip K. Dick)
Editora: Aleph
Capa: Giovanna Cianelli com ilustração de Rafael Coutinho
Comentário: A arte de Rafael Coutinho é fantástica. Ela representa perfeitamente esta história lisérgica escrita pelo Philip K. Dick. Adoro como a tipografia foi incorporada à ilustração. Ela contribui para demonstrar o poder da droga apresentada no livro, capaz de provocar o derretimento da fronteira entre a realidade e a ilusão.

Melhores capas 2020 medico eo monstro

O médico e o monstro (Robert Louis Stevenson)
Editora: Antofágica
Capa: Pedro Inoue com ilustração de Adão Iturrusgarai
Comentário: A Antofágica vem fazendo um trabalho fantástico ao reeditar esses clássicos. Ela tem conseguido atrair a atenção dos leitores para histórias que estão aí há tanto tempo que nem nos importamos. Já que, na maioria das vezes, esses livros eram relegados àquelas coleções de “clássicos de bolso”, com umas capinhas bem sem graça. Adoro a forma como a tipografia foi utilizada para representar o conflito de personalidade vivido pelo Dr. Jekyll, além desse ponto em vermelho na capa que dá um gostinho do que vem pela frente, com as ilustrações de Adão.

Melhores capas 2020 planeta dos macacos

O planeta dos macacos (Pierre Boulle)
Editora Aleph
Capa: Giovanna Cianelli
Comentário: A capa de O planeta dos macacos faz referência à época em que o livro foi escrito e às primeiras versões cinematográficas dessa história, trazendo elementos de ficção científica sessentista que me agrada bastante e me deixa muito feliz. O estilo da ilustração, a forma como os elementos e personagens são dispostos, cria uma narrativa visual que se assemelha a uma HQ antiga. Pra mim, Giovanna Cianelli é uma das melhores ilustradoras e capistas brasileiras e garante sempre um lugarzinho no melhores do ano.

Melhores capas 2020 william morris

William Morris: Sobre as artes do livro (William Morris)
Editora: Ateliê Editorial
Capa: Gustavo Piqueira e Samia Jacintho (Casa Rex)
Comentário: Um livro que fala sobre o resgate à beleza da produção do livro, sobre o cuidado com a escolha e composição dos tipos, dos papéis para impressão e a encadernação. É um projeto lindo, de grande contribuição para a História do Design e honra o trabalho do Morris, que era bastante preocupado em encontrar um padrão ideal de qualidade nas suas edições.

 

>> Hana Luzia

 

 Melhores capas 2020 Untold Night and Day

Untold night and day (Bae Suah)
Editora: Jonathan Cape (Vintage/Penguin)
Capa: Suzanne Dean com fotografia de Marta Bevacqua
Comentário: Fazia tempo que uma capa fotográfica não me causava impacto, principalmente em livros de ficção. Neste caso, a luz "cortando" o olho faz menção à cegueira (presente na história em diversos elementos), ao borrão que é a narrativa cheia de duplos (realidade/sonho, dia/noite, luz/sombra) e às distorções nas formas e ideias que nos deixam desorientados.

Melhores capas 2020 medico eo monstro

O médico e o monstro (Robert Louis Stevenson)
Editora: Antofágica
Capa: Pedro Inoue com ilustração de Adão Iturrusgarai
Comentário: Quando vi esta capa pela primeira vez criei uma conexão instantânea. Com toda certeza, por culpa do monstro vermelho com seus dentinhos que parece sair de dentro do livro. Uma representação mais moderna e cômica de monstro, diferentemente do que já foi criado para as inúmeras capas da obra. Destaco também o uso da tipografia e o preto & branco, fazendo alusão ao tom vitoriano da época. Nesse contraste fica bem claro que o monstro também é uma transgressão contemporânea de um clássico.

Melhores capas 2020 I want to be where the normal people are

I want to be where the normal people are (Rachel Bloom)
Editora: Grand Central Publishing
Capa: Philip Pascuzzo com ilustração de Sara Deck
Comentário: O design marcante de capas de livros dos anos 1980, tanto na tipografia quanto na ilustração realista, aliado ao tom ingênuo do título, das cores de sorveteria, do cachorro e das Spice Girls na camisa de Rachel Bloom, não me deixa dúvidas que essa é uma das melhores capas do ano.

Melhores capas 2020 os donos da terra

Os donos da terra (Daniela Fernandes Alarcon, Vitor Flynn Paciornik, Glicéria Jesus da Silva)
Editora: Elefante
Capa: Denise Matsumoto com ilustração de Vitor Flynn Paciornik
Comentário: Este quadrinho, baseado em uma pesquisa antropológica, aborda a luta dos Tupinambá da Serra do Padeiro, no sul da Bahia, pela recuperação de seus territórios até hoje. O que chama mais atenção, além da excelente ilustração, é a composição, com destaque para a mulher índigena em primeiro plano obstruindo a passagem de uma escavadeira. O alinhamento dos 3 principais elementos – índigena, escavadeira e o título – enfatiza o embate e a questão sobre terra e propriedade.

Melhores capas 2020 some go home

Some go home (Odie Lindsey)
Editora: W. W. Norton & Company
Capa: Sarahmay Wilkinson
Comentário: O mínimo que faz o máximo. Além do impacto visual provocado pelas cores, pela posição, e uso de sombras, o isqueiro com o adesivo de moranguinho também gera uma estranha atração e curiosidade sobre a contradição destes elementos.



>> Jaíne Cintra

 

Melhores capas 2020 william morris

William Morris: Sobre as artes do livro (William Morris)
Editora: Ateliê Editorial
Capa: Gustavo Piqueira e Samia Jacintho (Casa Rex)
Comentário: O encontro entre design e texto criou uma escultura que traduz visualmente o multiartista William Morris, que valorizava a dimensão formal do objeto livro. A Casa Rex, estúdio que assina o projeto, contribuiu não só com o design gráfico, mas também com a elaboração de textos auxiliares e a revisão técnica da tradução.

Melhores capas 2020 um homem bom e dificil de encontrar

Um homem bom é difícil de encontrar (Flannery O'Connor)
Editora: TAG/Nova Fronteira
Capa: Anderson Junqueira com pintura de Egon Schiele
Comentário: O projeto gráfico de Anderson Junqueira tem inspiração no expressionismo do século XX. O tradutor desta edição da obra de Flannery O'Connor, Leonardo Fróes, aponta para a similaridade entre a ânsia da escrita da autora e o gesto forte e deformador do movimento artístico.

Melhores capas 2020 clarice

Clarice (coleção)
Editora: Rocco
Capas: Victor Burton e Anderson Junqueira, com pinturas de Clarice Lispector
Comentário: O projeto gráfico da coleção valoriza as pinturas da autora. No seu centenário, Clarice ilustra a si mesma. Nas capas, um super zoom da obra que pode ser vista por inteira na orelha de cada edição.

Melhores capas 2020 nao digam que estamos mortos

Não digam que estamos mortos (Danez Smith)
Editora: Bazar do tempo
Capa: Letícia Quintilhano com fotografia de Davi Reis
Comentário: O livro pensa o racismo nos Estados Unidos, mas poderia ser o daqui. Com projeto gráfico de Letícia Quintilhano, a capa traz dois corpos negros em um dia de praia ensolarado, num enquadramento que parece não fazer sentido como escolha para acompanhar o título. Essa inadequação é comovente.

Melhores capas 2020 a bailarina da morte

A bailarina da morte (Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Victor Burton
Comentário: Victor Burton, autor do projeto gráfico, é um dos capistas mais experientes em atuação no mercado editorial brasileiro. São quase 3 mil capas produzidas até agora. Neste livro, procura aqueles que vêem além: a pista sobre a agonia da gripe espanhola no Brasil não está na foto histórica ou na ilustração do alto. Está no desencontro do asséptico azulejo branco barato, de rejunte fino e escuro que revela um padrão (ou prisão) comum aos corredores de hospitais.


>> Jânio Santos 

Melhores capas 2020 poesia completa cacaso 

Poesia completa (Cacaso)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Elisa Von Randow
Comentário: Gostei da síntese com a figura do poeta: a figura dos óculos redondos, o título da obra formando os olhos estreitos e o seu nome em letra cursiva, passando por toda a área da capa, como se fosse escrita sem tirar a caneta do papel.

Melhores capas 2020 em aguas profundas

Em águas profundas (Patricia Highsmith)
Editora: Intrínseca
Capa: Roberto de Vicq (Vicq design)
Comentário: Uma ilustração tipográfica muito bem empregada, com traços liquefeitos que se fundem e criam labirintos. O que está escrito não se lê tão facilmente, ficando por trás do lindo grafismo que atrai o olhar, representando muito bem o suspense que dá tom à obra.

Melhores capas 2020 republica das milicias

A república das milícias: Dos esquadrões de morte à era Bolsonaro (Bruno Paes Manso)
Editora: Todavia
Capa: Pedro Inoue
Comentário: Uma horda de "arminhas" se alastrando à direita do espaço: talvez a mais adequada forma de representar a ascensão desse poder paralelo e sua relação com o cenário político atual.

Melhores capas 2020 bauman uma biografia

Bauman: Uma biografia (Izabela Wagner)
Editora: Zahar
Capa: Violaine Cadinot
Comentário: Essa capa me atraiu pelo contraste dos elementos rigorosamente definidos na página e a intervenção gráfica que forma a fumaça do cachimbo. É uma bem empregada solução que vem para quebrar a concretude anterior e dar fluidez à imagem do grande pensador da modernidade líquida.

Melhores capas 2020 johnny panic

Johnny Panic e a bíblia de sonhos (Sylvia Plath)
Editora: Biblioteca Azul
Capa: Bloco Gráfico com ilustração de Karina Freitas
Comentário: Através da colagem, a capa revela a leveza e força das figuras utilizadas, que surgem e são sobrepostas por outras que se seguem num fluxo sinuoso, assim como imaginamos os sonhos.

 

>> Karina Freitas

Melhores capas 2020 cancoes de atormentar

canções de atormentar (Angélica Freitas)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Ale Kalko com pintura de Camile Sproesser
Comentário: canções de atormentar, novo livro de Angélica Freitas, recebe uma capa feroz criada pela designer Ale Kalko e pela artista Camile Sproesser. A pintura pintada a óleo e o título do livro desenhado à mão dialogam perfeitamente com a poesia irônica de Angélica. 

Melhores capas 2020 nos mulheres

Nós, mulheres (Rosa Montero)
Editora: Todavia
Capa: Luciana Facchini com pintura de Vânia Mignone
Comentário: Um livro sobre mulheres pioneiras. Mulheres abridoras de caminhos nas artes, na política, na ciência, em outros tantos lugares. A capa da designer Luciana Facchini para o livro de Rosa Montero guarda muita potência com a escolha da obra da artista plástica Vânia Mignone. 

Melhores capas 2020 os donos da terra

Os donos da terra (Daniela Fernandes Alarcon, Vitor Flynn Paciornik, Glicéria Jesus da Silva)
Editora: Elefante
Capa: Denise Matsumoto com ilustração de Vitor Flynn Paciornik
Comentário: A capa da HQ Os donos da terra é uma obra de resistência, um fiel retrato da luta dos nossos povos ancestrais num Brasil de eternos conflitos de território e artifícios colonizadores. Representa os Tupinambá da Serra do Padeiro, no sul da Bahia, no momento de luta e retomada. 

Melhores capas 2020 a potencia feminista

A potência feminista, ou o desejo de transformar tudo (Verónica Gago)
Editora: Elefante
Capa: Catarina Bessell
Comentário: Catarina Bessell capta a urgência das ruas na luta feminista e compõe uma capa linda, extremamente inquietante para o livro Verónica Gago. Ancorada no alto contraste de cor e no uso da colagem como forma de reinvenção e ruptura, junta pedaços de uma realidade possível.

Melhores capas 2020 a vida nao e util

A vida não é útil (Ailton Krenak)
Editora: Companhia das Letras
Capa: Alceu Chiesorin Nunes
Comentário: A capa de A vida não é útil segue o mesmo pensamento gráfico do livro anterior de Ailton Krenak, Ideias para adiar o fim do mundo, privilegia o alto impacto visual numa capa tipográfica com pequenos detalhes ornamentais. Linda, captura o olhar rapidamente em qualquer livraria.

 

>> Maria Luísa Falcão

Melhores capas 2020 O

O (Gustavo Piqueira)
Editora: Lote 42
Capa: Gustavo Piqueira
Comentário: O que mais me interessou nesta capa é a maneira como se utiliza da própria forma e materialidade do livro para representar um conceito (no caso, o próprio título do livro). Me agrada muito a mistura entre texturas dos papéis utilizados.

Melhores capas 2020 senao eu atiro

Senão eu atiro (Leusa Araújo)
Editora: Quelônio
Capa: Sílvia Nastari
Comentário: Trouxe esta capa, que é uma reimpressão, porque acredito ser um belíssimo exemplo do que significa a particularização do impresso. Além de o projeto gráfico incluir a utilização de luva (uma alegoria da narrativa), as ilustrações da sobrecapa são feitas manualmente, em carimbo. Como a disposição não se repete, cada exemplar é único.

Melhores capas 2020 o grande gatsby

O grande Gatsby (F. Scott Fitzgerald)
Editora: Antofágica
Capa: Pedro Inoue e Bruno Abatti com ilustração de Francis Cugat
Comentário: Particularmente, gosto muito do trabalho da Antofágica em reeditar os clássicos com o carinho e merecida atenção aos pormenores do fazer editorial. Foi uma ótima ideia trazer, nesta nova edição, a ilustração original de Francis Cugat.

Melhores capas 2020 por uma arte revolucionaria independente

Por uma arte revolucionária independente (André Breton e Diego Rivera)
Editora: sobinfluencia
Capa: Rodrigo Corrêa
Comentário: Acredito que este projeto tenha uma identidade muito forte, visivelmente com teor estético modernista. O que mais me interessou foi verificar as associações entre a mística da ilustração, baseada em uma carta de tarot, e o Surrealismo que atravessa o texto via André Breton.

Melhores capas 2020 stephen hawking

Stephen Hawking: Histórias de física e de uma amizade (Leonard Mlodinow)
Editora: Zahar
Capa: Rafael Nobre
Comentário: Me agrada muito, esteticamente falando, a ilustração digital com este estilo mais flat, mas que utiliza bem as texturas — remetendo ao pontilhismo. Acredito que a ilustração conseguiu traduzir, de forma visual, a temática proposta no livro.