Em Nem vertical nem horizontal: Uma teoria da organização política (Ubu Editora), Rodrigo Nunes resgata temas clássicos da organização à luz das diferentes transformações nos modos como compreendemos a política no mundo contemporâneo. Professor de teoria política na Universidade de Essex (Reino Unido), ele considera que a “questão da organização” — frequentemente descrita como essencial para a luta política — é uma área ainda surpreendentemente pouco teorizada. A partir de uma ampla variedade de tradições que incluem a cibernética, o pós-estruturalismo, a teoria das redes e o marxismo, Nunes desenvolve uma análise que evita oposições fáceis, argumentando que as mudanças em grande escala, urgentes diante da catástrofe climática, dependem fundamentalmente de uma pluralidade de ações, de uma ecologia complexa de iniciativas e formas organizacionais. Assim, ao propor uma nova teoria da organização política, por meio de um saldo das tentativas e erros das experiências das últimas décadas, o filósofo busca contribuir para uma investigação das possibilidades abertas à transformação social em nossa época.
No prefácio do seu livro, você escreve que a repercussão de um artigo sobre as dimensões organizacionais dos levantes que ocorriam ao redor do mundo, publicado em 2012, sugeriu que você estava no caminho certo. Você poderia comentar sobre os desdobramentos da sua pesquisa ao longo da última década?
Fiz meu doutorado em filosofia na Inglaterra em cima de um problema ao mesmo tempo especulativo e metafilosófico, a aparente contradição entre os sentidos ontológico e epistemológico do conceito de “imanência”. Quando voltei ao Brasil no fim de 2009, este ainda era o tipo de questão que me ocupava. Nos primeiros tempos como pós-doutorando na PUCRS, e depois como professor da PUC-Rio, organizei eventos e grupos de estudo sobre aquilo que eu chamava de “ontologias pós-críticas”. Em paralelo, desde os tempos de graduação eu havia sido politicamente ativo em círculos que poderíamos chamar de autonomistas, um envolvimento que continuaria após minha ida para a Europa. Particularmente, eu já tinha a ideia de escrever um livro sobre a questão da organização à luz das transformações que ela havia sofrido, por um lado, com o declínio das grandes organizações de massa na maior parte do mundo a partir da década de 1980, e, por outro, com o advento da internet. Já durante o doutorado eu havia decidido que esse seria meu segundo livro, no qual eu trabalharia depois de publicar a tese.
A década passada mudou esses planos. Se o projeto de um livro sobre organização havia perdido urgência com o declínio do movimento altermundista [movimento cooperativo do final do século XX que se opunha às consequências negativas da globalização neoliberal] a partir de 2004, a Primavera Árabe e o ciclo global de protestos iniciado em 2011 trouxeram o tema de volta à pauta — ainda mais porque várias das supostas inovações desse ciclo (horizontalidade, assembleias, a “ausência” de líderes) já estavam presentes no ciclo anterior, e era exatamente sobre os limites dessas inovações que eu pretendia refletir. Em 2012, publiquei o texto que você menciona, e a resposta foi impressionante. Veio junho de 2013 e decidi deixar de lado o projeto de transformar a tese em livro para me dedicar a essa outra pesquisa; em agosto, virei professor da PUC-Rio, e a demanda dos alunos pelo debate político também foi determinante nessa reorientação. No mesmo ano, a revista na qual eu publicara aquele artigo de 2012 me convidou para publicar um livro curto numa série que eles estavam organizando com a Universidade Leuphana (Alemanha). Foi assim que nasceu Organisation of the organisationless: Collective action after networks (ainda inédito em português), que adiantava em 2014 algumas das teses que apareceriam plenamente desenvolvidas com a publicação da edição inglesa do Nem vertical vem horizontal, pela Verso Books, em 2021.
Podemos dizer, então, que de junho de 2013 a julho de 2019, quando concluí o primeiro rascunho do livro, meu projeto principal foi o Nem vertical nem horizontal. No entanto, já a partir de 2016, com o Brexit e Trump, mas sobretudo após a eleição de Bolsonaro em 2018, dediquei-me a refletir sobre a ascensão da extrema direita no mundo. Este trabalho resultou em Do transe à vertigem: Ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição (Ubu, 2022).
Qual a importância de pensarmos uma nova teoria da organização, tema clássico dos movimentos de esquerda dos dois últimos séculos?
Meu ponto de partida é que a organização consiste nos meios que nos damos para reunir nossa potência de agir àquela de outros indivíduos, de maneira a constituir uma potência coletiva que é superior a qualquer potência individual; neste sentido, a organização é uma condição indispensável para a ação política. Acontece que passamos muito tempo sob a sombra do trauma das experiências de constituição de uma agência coletiva em escala, sobretudo aquelas do chamado “socialismo real”; e isso nos fez ver coisas como organização, disciplina, coletividade e liderança apenas como risco, e não também como condição de possibilidade. Daí que, com o advento da internet, se pensasse que finalmente havia surgido uma maneira de agir coletivamente que prescindia inteiramente de tudo isso. Mas a experiência das duas últimas décadas demonstrou que esse não era exatamente o caso.
O que foi ficando claro para mim é que nunca houve, na verdade, uma teoria da organização tal como eu entendia que esta deveria ser. Isto é, uma teoria que não fosse sobre a forma organizativa ideal (o partido, o conselho, a rede), mas que levasse em conta a pluralidade de formas de ação e organização que sempre existe, que entendesse que cada coisa é organizada à sua maneira (em vez de supor que tudo que não tem uma determinada forma é não organizado), que concebesse a organização deliberada e consciente como um caso da auto-organização (e não o seu contrário), e que pensasse não apenas como organizações individuais se organizam, mas o modo como diferentes formas, graus e tipos de organização interagem entre si. Em uma palavra, que pensasse a organização como ecologia. Foi isso que tentei fazer.
A edição brasileira do livro saiu no aniversário de dez anos de Junho de 2013, objeto, segundo você, das mais variadas e incompatíveis leituras. É possível fazer um balanço das principais visões sobre o ciclo de protestos? Como você se insere nesse debate?
Algo que ficou claro neste aniversário é que há uma interpretação dos eventos que “venceu”: aquela que estabelece uma continuidade entre eles, o impeachment e a eleição de Bolsonaro. Na versão mais extrema — o famoso “ovo da serpente” —, essa continuidade seria perfeita, e Bolsonaro já estaria dado em germe em 2013, inclusive porque forças ocultas teriam planejado cada etapa do processo que levaria de uma coisa a outra; na mais moderada, há uma constante, o antipetismo, que vai se deslocando cada vez mais à direita. Não surpreende que esta tese da continuidade tenha sido vitoriosa, dado que é dominante na direita e em boa parte da esquerda. O que surpreende é justamente que, diante do maior fenômeno de massas da história brasileira desde a redemocratização, esquerda e direita estejam tão de acordo: a primeira diz que as manifestações eram de direita, e esta última responde que sim, obrigado.
Há uma série de traços nas leituras que seguem essa interpretação que me parecem problemáticos. Para começar, quando dizem “junho de 2013”, na verdade elas têm em mente as grandes manifestações do fim daquele mês, e frequentemente apenas aquelas ocorridas em São Paulo; e não um ciclo mais amplo que começa com a luta em torno do aumento das passagens em março, em Porto Alegre, e inclui realidades locais bastante distintas, protestos em favelas e periferias, ocupações de câmaras municipais por todo o Brasil em julho e agosto de 2013, a maior onda de greves já registrada no país (inclusive a greve dos garis no Rio de Janeiro em fevereiro do ano seguinte) e se estende até o Não Vai Ter Copa, em julho de 2014. Se tomamos essa visão mais ampla, fica claro que não dá para reduzir tudo que aconteceu àquelas duas semanas do fim de junho, nem achatar todas as suas dimensões e tratar aquilo como algo unívoco, seja “de esquerda” ou “de direita”. Junho não foi um movimento, mas um acontecimento, o que significa que ele foi várias coisas diferentes ao mesmo tempo e mais abriu possibilidades do que se definiu como sendo isso ou aquilo.
Se o vemos nessa chave, fica evidente que sua relação com o que vem depois não é simples, como uma causa direta, mas antes a de uma condição: junho abre uma nova situação em que diversos resultados se tornam possíveis. Dificilmente haveria impeachment e Bolsonaro se não houvesse a eclosão simultânea de uma grave crise econômica e do escândalo da Lava Jato, dois dos três principais fatores para que a “nova direita” (tipo MBL) e a extrema direita pudessem se apresentar como representantes de um conjunto de insatisfações, muitas delas legítimas. O terceiro fator é que a esquerda não soube disputar esse novo momento que se abriu — a que estava nas ruas porque não tinha condições organizacionais e foi duramente reprimida; a que estava nas instituições porque optou por rechaçar as manifestações e se colocar como defensora de uma ordem que estava sendo contestada por todos os lados. Isso deixa claro porque a narrativa do “ovo da serpente” interessa a muita gente: ela serve para disfarçar uma série de erros políticos.
Você aponta que a noção de “horizontalismo” se tornou popular no interior do ativismo altermundista. Entretanto, na década passada diversos movimentos em rede se reuniram em torno de partidos políticos, o que foi visto por muitos como uma redescoberta da importância da organização, além de um sinal de amadurecimento. Como entender os limites do horizontalismo sem abraçar uma leitura evolucionista da organização política?
Esse evolucionismo ainda é tributário da ideia de que há uma forma organizativa ideal: ao nascer, os movimentos têm diferentes formas, adaptadas aos diferentes tipos de ação em que eles se engajam, mas eventualmente eles “amadurecem” e aprendem que a política “de verdade” se faz através do Estado, organizando-se em partidos. Seria aí, então, que eles “realmente” se organizariam. O limite dessa visão fica claro na experiência de partidos que nascem de ecologias ricas, como o PT no Brasil e o MAS na Bolívia, mas que vão perdendo inserção social e capacidade de renovação à medida que a aposta no aparato eleitoral vai se tornando exclusiva, e a ecologia vai empobrecendo. Ao mesmo tempo, a aposta em ignorar completamente o Estado frequentemente fracassa porque movimentos não conseguem manter para sempre a mesma intensidade, e a passagem à instituição é útil para consolidar posições conquistadas ou atingir setores previamente não alcançados.
Contra a ideia evolucionista de que o Occupy “amadureceu” quando as pessoas se engajaram na campanha de Bernie Sanders, ou os indignados espanhóis “amadureceram” quando surgiu o [partido] Podemos, defendo no livro que o que ocorreu foi, na verdade, um duplo aprendizado. Quem se envolveu nessa guinada eleitoral o fez por entender que não era possível abandonar as instituições por completo, já que estas ainda tinham poder para delimitar o espaço de ação dos movimentos. Por outro lado, contra o próprio evolucionismo, eles o fizeram entendendo que um instrumento eleitoral deve ser parte de uma ecologia mais ampla, e não a aposta exclusiva ou o fruto natural e necessário dos movimentos.
Numa das partes mais interessantes do livro, você sugere que uma das fontes de paralisia no interior da esquerda reside no fato de que, desde os anos 1980, ela esteve cindida por uma oposição entre a esquerda de 1917, inspirada pela Revolução Russa, e a esquerda de 1968, inspirada pelo Maio de 1968 francês. Você poderia retomar os principais pontos do seu argumento sobre a “melancolia de esquerda”?
Contra diferentes interpretações contemporâneas do conceito benjaminiano de “melancolia de esquerda”, eu sugiro que na verdade temos não uma, mas duas “melancolias de esquerda”, cada uma delas decorrente da dificuldade de assimilar a derrota de um dos dois grandes modelos pelos quais se pensou a transformação revolucionária no século XX — que identifico esquematicamente com 1917 e 1968, o primeiro tendendo ao “vertical”, o segundo ao “horizontal”. E porque estas duas melancolias se definem uma por oposição à outra, elas nos constrangem constantemente a escolher entre elas, razão pela qual durante muito tempo os debates teóricos na esquerda se apresentaram como uma oposição entre pares conceituais tais como: ou vertical ou horizontal, ou macropolítica ou micropolítica, ou centralização ou dispersão, ou hegemonia ou autonomia…
Meu argumento é que, se fizermos o luto dessas duas melancolias, veremos que na verdade não só cada um desses lados sempre supôs e precisou do outro em alguma medida, como o problema da organização consiste sempre na necessidade de mediar entre estes pares conceituais, isto é, buscar a medida entre eles que seja mais adequada para cada situação, cada momento. Isso abre espaço para que se possa pensar um solo comum em que os problemas que enfrentamos são os mesmos, ainda que possamos discordar sobre como resolvê-los — ou seja, sobre qual seria a medida adequada para cada momento e situação.
O que ainda resta da ideia de Revolução?
Dedico um capítulo inteiro a traçar a maneira como esta ideia, fundamentalmente moderna, veio se transformando desde antes do século XVIII até aqui. Muitas dessas transformações são positivas: em vez de um determinismo histórico, passamos a pensar em termos de não linearidade e contingência; em vez de supor que alguns grupos estavam naturalmente destinados a se tornarem revolucionários, passamos a entender a política em termos de composição de desejos e interesses; em vez de acreditar que o mundo podia ser refeito praticamente do zero, passamos a ver a agência política como algo que se dá no interior de uma realidade complexa. Ao mesmo tempo, o desaparecimento de um horizonte de transformação revolucionária, a partir dos anos 1970, gera uma perda de critérios para medir e avaliar a ação presente. Um dos efeitos disso é justamente uma inflação do uso da palavra “revolução”, que passa a ser usada para descrever uma série de coisas que, no passado, seriam vistas no máximo como parte de um processo revolucionário.
Ressituar a ideia de revolução em toda sua extensão original — como constituição de uma outra ordem econômica, social e política em escala global — parece-me importante hoje por três motivos. Primeiro, porque esta é a escala em que a crise climática nos obriga a pensar: ou haverá mudança global, ou não haverá a mudança necessária para impedir o pior. Segundo, porque reintroduzir esse horizonte, por mais distante que ele esteja hoje, nos dá alguma métrica pela qual podemos aferir se estamos nos movendo na direção certa ou não. Terceiro, porque o fato de que uma transformação nesta escala ainda não ocorreu nos impõe uma certa reserva e humildade política: se aquilo que se buscava até hoje não aconteceu, ninguém pode se arvorar a ter a fórmula estratégica mágica. Isso abre espaço para a cooperação e flexibilidade que são necessárias a uma ação política concebida em termos ecológicos.
Você afirma que a crise climática é o desafio mais complexo com que a ação política se confronta nos dias de hoje. Como um problema dessa dimensão tem impactado, ou deveria impactar, nossas formas de organização política?
Trata-se do maior problema com que a humanidade já se deparou, e é muito possível que ele seja intratável. Por um lado, enfrentá-lo de forma justa exigiria coordenação numa escala para a qual não existe nenhum precedente, e na qual não há nenhuma instância de coordenação no horizonte; ao contrário do que dizem os delírios paranoicos da extrema direita, não estamos caminhando rumo a um governo global, menos ainda a uma federação de produtores livremente associados. Por outro lado, as formas de coordenação em grande escala que existem hoje — a competição entre Estados-nação e diferentes capitais no mercado global — mais que insuficientes, são responsáveis pelo problema.
Diante disso, é normal que se reaja com uma aposta na pequena escala, seja a das escolhas individuais de consumo (“cada tem que fazer sua parte”), seja a de comunidades locais e regionais. Soma-se a isso a desconfiança em relação a qualquer noção de coordenação global, dado que foi justamente a globalização do mercado e do sistema de Estados-nação que criou o problema; e iniciativas de planejamento em larga escala historicamente se impuseram violentamente sobre realidades locais. Acontece que não existem soluções puramente locais para um desafio global: mesmo que as primeiras sejam bem-sucedidas no curto prazo, o caos climático e social tende a engoli-las na média e longa duração.
Conforme argumento no livro, há uma grande confusão em torno da noção de “local”. O local é sempre local em relação a uma dimensão maior, e não se confunde com a pequena escala: a Terra é local em relação ao sistema solar, que é local em relação à Via Láctea, e assim por diante. É evidente que, dada a ausência atual de instâncias de coordenação em nível planetário, o único lugar em que podemos agir é “local”, mas isso não se restringe à menor escala. Pelo contrário, precisamos de ação coletiva em todas as escalas em que seja possível atuar, trabalhando na direção de esferas cada vez mais amplas de coordenação, capazes de distribuir da maneira mais justa e igualitária os custos de uma transição em direção não apenas a uma outra base energética, mas também a outro sistema econômico e político.
Você defende — a meu ver, de maneira bastante acertada — que o seu livro tem uma dimensão “terapêutica”, uma vez que não se trata de resolver certos problemas, mas de dissolvê-los, por meio de uma exposição das confusões conceituais de que eles emergem. Na sua leitura, qual a importância do trabalho teórico para a luta política?
Uma das coisas que mais me alegram na recepção do livro é quando as pessoas dizem que reconheceram experiências práticas em questões que discuto abstratamente, porque o fato dessa ser uma teoria da organização política não quer dizer que eu estivesse teorizando no vácuo. Pelo contrário: eram as dificuldades e limites que eu observava na experiência, a minha própria e a de outros à minha volta, que ditavam para mim onde havia problemas conceituais a serem pensados.
O fato de que o trabalho teórico tenha uma reputação frequentemente negativa na luta política tem muito a ver com uma transformação ocorrida desde o início do século XX, quando os intelectuais participavam diretamente de uma prática coletiva, e “intelectual” podia ser qualquer um que estivesse engajado no processo de reflexão sobre essa prática. O progressivo definhamento do movimento operário, e o fechamento de seus partidos a qualquer coisa que não fosse a ortodoxia mais rasa, caminhou lado a lado com uma crescente “profissionalização” da função do intelectual, que passou a se confundir cada vez mais com o pesquisador universitário. Isso fez com que a alça de retroalimentação entre teoria e prática se estendesse, e o trabalho conceitual se tornasse cada vez mais distante das experiências coletivas, parecendo girar em torno de si mesmo. É comum que se resuma tudo a uma questão de egos individuais inflados, mas há uma transformação material em jogo. E a relativa “democratização” da figura pública do intelectual trazida pelas redes sociais não resolveu este problema, dado que a reflexão que se faz nelas frequentemente tem por público mais os próprios pares em seu interior que quaisquer experiências coletivas fora delas.
Diante disso, há uma reação bem-intencionada, mas que me parece demagógica e equivocada, que consiste em afirmar a reflexão como supérflua porque “as pessoas já sabem” tudo que precisam saber. Acredito que a posição propriamente freireana, no entanto, seja outra. Na verdade, ninguém “já sabe” nada, estamos todos tentando aprender juntos, e é para esse aprendizado coletivo amplo que mesmo o trabalho mais abstrato pode e deve contribuir.